Ed. 30 | 10 de outubro de 2017

Por que os brasileiros têm
dupla personalidade ambiental?

Mutirão para montar uma horta na Avenida Paulista

Os brasileiros têm dupla personalidade em relação ao meio ambiente. Tudo o que se fala ou se pensa sobre meio ambiente no Brasil pode ser dividido em dois grupos. É como se fossem duas agendas: a verde e a marrom. Cada uma tem uma dinâmica própria. Elas correm de forma independente. E isso tem consequências para nosso desenvolvimento sustentável. Ou para a falta dele.

A agenda verde é a das florestas. É o debate sobre o futuro da Floresta Amazônica, da Mata Atlântica, do Cerrado e da Caatinga. Ele é dominado por uma falsa ideia de oposição entre produção rural versus conservação ambiental. Na realidade, a verdadeira escolha é entre a produção predatória ou criminosa e a produção sustentável ou legal. A agenda verde é a que tem mais visibilidade, principalmente internacional. O mundo está de olho no que fazemos com nossas riquezas naturais. Organizações não governamentais brasileiras e estrangeiras têm voz importante, assim como pesquisadores e representantes de entidades rurais, como a bancada ruralista no Congresso. Um aspecto interessante dessa agenda é que a maioria dos brasileiros não se enxerga dentro dela em sua rotina. Embora as maiores cidades do país – São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador – tenham sido originalmente Mata Atlântica, o ambiente natural foi tão expurgado da vida dos cidadãos que eles imaginam o que acontece com as florestas como algo distante, em geral lá na Amazônia. Isso explica por que é mais fácil mobilizar os paulistanos para salvar uma reserva no Pará do que um parque no bairro ao lado.

Já a agenda marrom é a das cidades. Inclui um conjunto de questões como água, lixo, poluição do ar, barulho, mobilidade, contaminação dos solos, arborização urbana, energia e ilhas de calor. Os temas parecem isolados, mas estão todos interligados. A agenda marrom não tem a polarização da agenda verde. As pessoas se posicionam de forma complexa. Você pode defender a reciclagem de lixo, mas não liga para a poluição sonora de sua igreja ou de seu baile funk. As pessoas também são mais pragmáticas. Você pode defender a coleta seletiva, mas não quer pagar uma taxa de lixo municipal. O debate ocorre muito mais em torno da política local, naturalmente. É menos Congresso Nacional e mais prefeituras. Embora políticas federais, como subsídios a montadoras, também atinjam as cidades, isso não é tão percebido pelos cidadãos.

Texto completo

Autor: Alexandre Mansur
Fonte: Blog do Planeta (Época)

VOLTAR


(24) 3355-8389
ceivap@agevap.org.br

Produzido por Prefácio Comunicação